Poesia

Minha maior loucura

Não foi…

Não foi andar a beira do precipício
Tendo medo de altura

E tantas outras tolices
Para provar minha bravura.

Não foi colocar o pé na estrada
Em busca de aventura

Pra depois assumir a todos
O meu medo da sepultura.

Não, não foi…

Não foi conjugar num mesmo ser
A dureza e a ternura

E ainda por conta disso
Magoar tanta doçura.

Nem experimentar a paixão
Ao limite da fissura,

Ou dispensar com desprezo
O que tanta gente procura.

Não, não foi…

Não foi pensar que o amor
Fosse feito para ventura,

Ou batalhar a justiça
Onde só a maldade figura.

Não foi ver um mundo lindo
A partir de minha amargura,

Nem ingenuamente crer
Que minha poesia fosse pura.

Não, não foi.

Minha grande desventura
Foi acreditar na cura.

Desejar a sanidade
Foi minha maior loucura.

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Poesia

Juízo Final

(…) Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Por fim veio o que tinha recebido um talento e disse: ‘Eu sabia que o senhor é um homem severo, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Por isso, tive medo, saí e escondi o seu talento no chão. Veja, aqui está o que lhe pertence’. O senhor respondeu: ‘Servo mau e negligente!'” (…) [Mateus 25.24-26]

Quando o derradeiro dia chegar
Apenas desejo a oportunidade dizer
Que fiz o melhor que pude

Fui o mais intenso que consegui
À medida do que tive acesso, me permiti:

Não deixei de experimentar
Mas dosei os exageros
Compartilhei com os que chegaram
Mas não dispensei a solidão.

Recomecei quando entendi necessário
Desperdicei quando a ocasião permitiu

Acertei, errei, gastei, guardei,
Venci, perdi, arrependi, desisti
Usei o máximo de possibilidades…

Naquele momento, então
Àquele que inventou tudo isso
Devolverei, vazio, o ser,
Suplicando, se possível for,
Que o encha novamente de vida
Para eu poder fazer tudo outra vez.

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